Outro dia, numa dessas manhãs em que o cérebro ainda boceja enquanto o celular já grita por atenção, me peguei encarando a tela em branco do Instagram. Não era bloqueio criativo. Era outra coisa: uma fadiga mais funda, quase existencial. A exaustão de ter que parecer interessante.
Não se trata apenas de produzir conteúdo. É o cansaço de performar relevância — diariamente, em looping — pra um feed que nunca dorme. Como se a nossa identidade fosse um perfil em constante beta, esperando likes como quem espera aprovação existencial.
É aí que entra o algoritmo, essa entidade invisível que não impõe regras, mas dita o ritmo. Ele premia constância, engajamento, formato certo, tom certo, timing certo. E a gente aprende. Ou melhor, desaprende a ser espontâneo. Cada post vira uma equação. Cada silêncio, uma ameaça de irrelevância.
Vivemos o paradoxo de uma era hiperconectada onde a exposição é constante, mas o sentimento é de isolamento. E talvez parte dessa solidão venha do fato de que estamos todos tentando ser “interessantes” da mesma forma. No fim, o cansaço é menos do outro — e mais de nós mesmos: das versões que criamos, dos filtros que mantemos, das ideias que encenamos.
Nas entrelinhas desse teatro digital, mora uma pergunta inquieta: quem somos quando não estamos tentando impressionar ninguém?
Esse cansaço não é só pessoal — é estrutural. É o reflexo de um modelo que transforma atenção em capital e espontaneidade em ativo. E que cobra um preço alto: nossa energia mental, nossa capacidade de presença, nossa conexão genuína com o mundo e com os outros.
O que me leva a pensar: talvez o verdadeiro “conteúdo de valor” seja, hoje, aquele que nos permite ser menos conteúdo e mais gente. Que nos autoriza a falhar, sumir, pausar. Que nos convida a estar, não apenas aparecer.
Porque, no fim das contas, quem precisa ser interessante o tempo todo, inevitavelmente se torna cansado — e, pior, previsível.