Logo abaixo, você vai assistir a um vídeo que parece saído de um filme de ficção científica — mas é só tecnologia funcionando no seu estado mais puro e hipnotizante.
Esse scanner industrial usa jatos de ar e sucção para virar automaticamente as páginas de um livro aberto, digitalizando tudo com uma precisão quase poética. Nada de braços robóticos extravagantes. Apenas lógica física aplicada com elegância: o ar levanta a página, o vácuo a segura, e o sistema captura. Página após página, sem parar. Até 2.500 por hora.
A cena, além de fascinante, diz muito sobre o momento que estamos vivendo.
Cada livro digitalizado por máquinas como essa se transforma em matéria-prima para alimentar os LLMs (Large Language Models), como ChatGPT, Gemini, Claude, DeepSeek e tantos outros. Esses modelos de linguagem aprendem lendo — e agora estão lendo mais do que nunca. Bibliotecas inteiras, documentos históricos, manuais técnicos esquecidos, arquivos analógicos — tudo ganha nova vida digital.
Isso tem implicações profundas. Porque não se trata só de ter acesso fácil a conteúdos antes inacessíveis. Trata-se de oferecer às máquinas cada vez mais contexto, nuance e repertório para responder melhor, entender mais fundo e dialogar com mais inteligência.
Mas aí vem a pergunta incômoda — e inevitável:
Será que, mesmo com esse avanço frenético, algo substancial vai ficar de fora?
Porque nem tudo que importa está escrito. E nem tudo que está escrito está disponível, autorizado ou em bom estado para ser digitalizado. Há lacunas invisíveis: saberes orais, vivências subjetivas, gestos que nunca viraram texto. E há filtros humanos: curadoria, interesse, viés, política. No que se escolhe escanear, há sempre um pouco do que se escolhe esquecer.
O vídeo que você acabou de ver é mais do que uma demonstração de eficiência. É um símbolo silencioso da nossa obsessão por preservar e processar tudo. Mas, no fim das contas, talvez o maior desafio seja o que fazer com tudo isso — e o que ainda vai continuar de fora, à margem do digital.